sexta-feira, 10 de junho de 2011

Dia da Raça

    Olhando o mundo em que vivemos, cada vez mais percebemos como nasce, nas pessoas e nos grupos, a consciência da necessidade de aprender a conviver com as diferenças, desde que a humanidade queira sobreviver. O fenómeno da globalização faz com que os “vários mundos” estejam uns dentro dos outros, colocando os vários sujeitos culturais em permanente encontro, confronto ou desencontro. Dentro dessa realidade, acredito que uma comunidade multicultural pode contribuir para reforçar e visualizar alguns aspectos que ajudam no processo de humanização das pessoas, seja na dimensão humana ou social.
     Recuso-me a aceitar que o multiculturalismo seja utilizado como o bode expiatório para encobrir falhas, pontuais mas tremendas, de políticas de urbanização e imigração, cometidas por alguns estados e cidades Europeias, os bairros sociais, autênticas fábricas de ódio,
exclusão e auto-exclusão.
    Atribuir a culpa ao conceito de multiculturalismo e pensarmos que não existe mérito na compreensão da diferença com os nossos vizinhos, é chauvinista e perigoso, para além de ser um contra-senso no contexto da globalização e da aldeia global.
    O nacionalismo, como a história nos mostra com redundância, é um objecto muito perigoso, e catalisa uma reacção bárbara perante a diferença. O virar de costas ao conhecimento filosófico, ideológico ou espiritual de outras culturas, é pura miopia e autismo social.
Os eventos, sobretudo os culturais, têm a missão de manter vivo e testemunhar o sentido da comunhão entre os povos e suas culturas.
     Incumbe a cada um de nós explorar o melhor das nossas diferenças para o benefício de todos e estabelecer um clima de confiança, em vez de suspeição.
    Foi esta a lição que hoje um grupo de jovens de Loures me deram, não esperaram sentados e mesmo contra as adversidades e autismo dos organismos oficiais, os Eclodir Azul levaram a efeito um espectáculo multicultural a que chamaram “O Mundo numa Cidade”.
    Hoje dia 10 de Junho feriado nacional a que Cavaco Silva num lapso de saudosismo chamou de   “Dia da Raça” expressão criada por Salazar no Estado Novo, eu contrariamente às muitas vozes que se insurgiram contra o nosso Presidente, dou-lhe razão, pois ao assistir a este evento no Museu do Conventinho em Loures, vivi o verdadeiro dia da raça. A raça destes jovens que tiveram a ousadia de criar um espectáculo deslumbrante de cor luz ritmo e alegria, entre culturas tão dispares e tão próximas como as da Ucrânia de Cabo Verde ou da Guiné os ritmos de Portugal e do mundo, os sons de ontem e de hoje. -Sim… eu vi a raça dos músicos, a raça dos bailarinos, a raça das crianças que ás dezenas brincavam alegremente nos jardins do Conventinho, perante o olhar atento de um pequeno batalhão de polícias, “sim porque isto de misturar culturas num bairro tão perigoso com Stº. Antº. dos Cavaleiros, podia dar para o torto…”.
     Hoje o 10 de Junho em Loures pode não ter sido o dia da raça, mas foi sem sombra de duvida um dia com “RAÇA”, a raça dos jovens das periferias que acreditam que é possível um mundo melhor e querem ter um papel activo na sua criação! As jovens da Loures Criativa, os jovens da Eclodir Azul e todos aqueles que contribuíram para a realização deste evento, estão de parabéns pela sua raça em ousar criar. Hoje em Loures o Eclodir não foi Azul isso seria demasiado redutor, “O Mundo numa Cidade”  foi policromático, o meu dia de Camões teve a raça de um Eclodir Arco-íris.

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